Criado pela AIC em 2023, o Observatório Participativo da Desinformação tem como propósito investigar, fomentar e inventar modos coletivos, colaborativos e criativos de combater a desinformação e promover a cidadania em territórios periféricos. Para isso, articula e sistematiza as experiências por meio de diversas iniciativas na região metropolitana de Belo Horizonte. O projeto, assim, tem gerado conhecimento, conexões e materiais transversais de enfrentamento de notícias falsas e informações parcialmente verdadeiras. 

Entre 2023 e 2024, o Observatório implementou o “Dá Ideia”, formado por 12 jovens de quatro núcleos territoriais na Grande BH: Aglomerado da Serra, Morro do Papagaio, Pedreira Prado Lopes e Justinópolis, em Ribeirão das Neves. Junto aos participantes, foram ofertadas aulas e atividades práticas para o combate à desinformação.  Além das ações formativas, a iniciativa também promoveu a escuta sistemática de lideranças comunitárias sobre a desinformação e realizou campanhas informativas nas periferias, em torno dos temas golpes cibernéticos, título de eleitor, direito à moradia e fake news no período eleitoral. 

O que o Observatório vem observando nos territórios  

Para a elaboração de todas as campanhas, a equipe se apropriou das metodologias de escuta ativa e de construção colaborativa se articulando com mais de 90 entidades/lideranças. Neste contexto, a desinformação foi abordada de duas formas. A primeira, mais aberta e geral, buscou entender qual é a relevância deste tema no contexto de cada território e trabalho social desenvolvido. Em um segundo momento, os grupos foram perguntados diretamente sobre os temas das campanhas. 

Ao todo, em 2024, o Observatório escutou 51 lideranças comunitária e articulou-se com 18 entidades para a realização de ações e de prospecção de iniciativas voltadas ao combate a desinformação 

A partir da escuta ativa nos territórios e da criação das campanhas, a equipe chegou a algumas conclusões importantes que contamos a seguir: 

Enfrentar a desinformação precisa ir para além do digital

Para a grande maioria das lideranças comunitárias, o enfrentamento à desinformação não pode ocorrer somente no mundo virtual. Isso tem levado a equipe do Observatório a pensar, cada vez mais, em ações híbridas, com materiais online para redes sociais e Whatsapp, aliadas com intervenções territoriais e distribuição de materiais impressos. Além disso, essa perspectiva aponta para a intensa interação das notícias falsas como as fofocas, boatos e difamações que circulam de maneira mais local.  

Outro ponto que chamou a atenção é o quanto as lideranças comunitárias são procuradas como “checadoras” de informações e vistas como fontes de informações seguras sobre políticas públicas e questões políticas. Isso reforça a missão do Observatório de fortalecer e amparar essas pessoas por meio de campanhas, para que possam responder a essas demandas com informações confiáveis. 

Direitos, minorias sociais e políticas públicas de assistência social são alvo 

Também foi ponto de destaque desde o começo da escuta, os temas relacionados à garantia de direitos e às políticas públicas, sobretudo às assistenciais. Nesse contexto, há um encontro entre três tipos de desinformação:  

(1) A circulação de materiais de divulgação e discursos que deslegitimam políticas públicas como o Minha Casa Minha Vida, o Bolsa Família ou a Lei Maria da Penha;  

(2) Golpes com links falsos para esses programas assistenciais e para furtos de dados ou de dinheiro;  

(3) As lacunas da comunicação pública sobre a política pública, que tornam as informações precisas e oficiais pouco disponíveis e inteligíveis.  

Dentre os principais atingidos por essa desinformação estão as mulheres, chefes de família e beneficiárias dessas políticas. Importante notar, ainda, que há desinformações que atacam diretamente certos grupos, como pessoas de religiões de matriz africana, juventudes negras e periféricas, movimentos sociais e a comunidade LGBTQIAPN+.  

Além do ataque direto aos grupos, há muitos casos de difamação dessas pessoas e entidades, como junto ao público jovem de estudantes secundaristas. É evidente que esse tipo de difamação sempre ocorreu, mas é inegável que as redes sociais têm amplificado o problema tanto em contextos escolares quanto em comunitários.  

Outro ponto importante observado pela equipe é a combinação entre o tráfico de drogas e as difamações, o que pode levar a desfechos ainda mais graves, com ameaças à vida, necessidade de mudança de endereço, de “sumir”etc.   

Periferia Sem Fake: Observatório inicia nova etapa! 

Desde o final de 2024, o Observatório vem atuando em uma nova etapa.  Por meio do edital Periferia Sem Fake, são contempladas iniciativas comunitárias de combate à desinformação. 

Cada qual à sua maneira, as iniciativas trazem novas compreensões sobre as fakes news e as estratégias para combatê-las.  

A iniciativa Fakes que Mudam Vidas, da Associação Cultural, por exemplo, desenvolveu, junto a 21 crianças do ensino fundamental da Pedreira Prado Lopes, um espetáculo com dança, dinâmica e palestra sobre cyberbulling que circulou em cinco escolas do ensino fundamental.  

O projeto Circula Libras produziu cinco vídeos em Libras alertando para a desinformação junto ao público surdo. Já o portal Conecta-Cabana vem desenvolvendo uma comunicação feita pela e para a maior favela de Belo Horizonte, a Cabana do Pai Tomás.  

Ao todo, 11 iniciativas já foram contempladas e em 2025 outras serão viabilizadas com recursos e acompanhamento do Observatório. O Periferia Sem Fake conta, nessa nova fase com o Núcleo de Criação, formado por bolsistas selecionados do Dá Ideia, que são o braço criativo das campanhas de enfrentamento à desinformação.   

O trabalho de escuta e articulação do Observatório Participativo da Desinformação permanece ativo, e com novas ações e campanhas que podem ser conferidas no site e nas redes sociais.   

Gostou? Dê uma olhada nos materiais do Observatório!  

www.observatoriodesinformacao.org.br