Notícias deliberadamente falsas se disseminam em velocidade acelerada e alucinante nas redes sociais. O fenômeno, denominado desinformação, vem dominando a pauta da comunicação a nível internacional e se constitui uma ameaça ao Estado de Direito, à construção de políticas públicas e às instituições democráticas. 

Nascida com vocação para a comunicação comunitária, a AIC se sentiu convocada a atuar sobre esse cenário comunicacional, aportando contribuições da área em que atua há três décadas. Afinal, acreditamos que o caráter orgânico, pessoal e passional da disseminação de notícias falsas exige, além dos mecanismos de larga escala, estratégias localizadas que tragam laços de familiaridade e identidade com as comunidades locais.  

Assim, nasce Observatório Participativo da Desinformação – iniciativa da AIC com patrocínio da Open Society Foundations e apoio do Margem – Grupo de Pesquisa em Democracia e Justiça, da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. Seu objetivo é investigar, fomentar e inventar modos coletivos, colaborativos e criativos de combater a desinformação e promover a cidadania em territórios periféricos. 

Nesse sentido, apostamos em uma ação norteada pela encruzilhada entre comunicação, articulação de rede, educação emancipatória e incidência política. Ou seja, vamos da formação crítica de jovens e lideranças locais à produção comunicativa construída localmente, com elementos simbólicos próprios de cada espaço. Passamos, também, pelo monitoramento de outras iniciativas de combate à desinformação e pelo intercâmbio com elas. 

“Não há hoje uma receita, um caminho certeiro para o combate à desinformação. No mundo todo há especialistas, figuras políticas e ativistas buscando caminhos para isso. É um fenômeno global, de crescimento exponencial. Diante desse desafio, nosso objetivo é experimentar ações locais, a partir de uma escuta ampliada para as comunidades. Temos com perspectiva de ação uma educação cidadã e para a paz”, nos conta a gerente do projeto, Emanuela São Pedro. 

Dá Ideia: núcleos locais de combate à desinformação 

Na segunda metade de 2022, arregaçamos as mangas para desenhar e estruturar o Observatório e botar o bloco na rua. Surge, assim, o Dá Ideia, braço do Observatório formado por quatro núcleos locais de combate à desinformação em comunidades periféricas da RMBH. 

O primeiro passo foi estabelecer parcerias com coletivos atuantes nos territórios. Participam da iniciativa: Eu Amo Minha Quebrada e ANEDUC – Associação Nevense de Educação e Cultura, pioneiros em promover ações comunitárias de enfrentamento das fake news no Morro do Papagaio, em BH, e em Ribeirão das Neves, na Grande BH, respectivamente; Mulheres da Quebrada, do Aglomerado da Serra; e Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos, da Pedreira Prado Lopes. 

A partir da mobilização em conjunto com os grupos, selecionamos quatro jovens bolsistas de cada comunidade. Desde novembro de 2023, as turmas têm participado de uma formação de educação midiática e para os direitos humanos. Neste ano, o processo formativo continua, mas agora colocando a mão na massa. Damos início à produção de materiais de contrainformação, a partir do que rola em cada comunidade. 

Histórico

Desde 2021 – no contexto da pandemia de Covid-19, das vacinas de imunização ao coronavírus, dos métodos de prevenção à doença e da desinformação generalizada sobre programas e benefícios governamentais de apoio emergencial –, acompanhamos relatos sobre o enfrentamento das fake news em comunidades periféricas. Essa escuta junto à nossa rede deu origem a experiências embrionárias de comunicação e mobilização, que a AIC apoiou e promoveu nos projetos Periferia Viva e Comunidade Viva Sem Fome. 

No ano seguinte, passamos a integrar a Rede Nacional de Combate à Desinformação. De norte a sul do país, a organização virtual coletiva interliga iniciativas diversas que trabalham e contribuem para combater o mercado da desinformação. 

Já em 2023, demos continuidade à invenção de caminhos para o combate à desinformação. Dessa vez, foi ofertada disciplina em parceria com a Faje – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Na atividade de extensão acadêmica, alunos trabalharam junto a jovens das periferias da Grande BH na produção de peças de comunicação em torno do tema. 

Saiba mais sobre nossas experiências e perspectivas na comunicação cidadã!