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Pensar a relação com o território, identificar um problema comunitário, imaginar uma solução criativa possível e colocá-la em prática de maneira coletiva é parte da proposta do Cidadania Criativa, projeto da AIC que desde 2019 oferece formação em artes gráficas, fotografia e audiovisual a adolescentes de Belo Horizonte e região metropolitana. Mas chegou a pandemia, e, com ela, a impossibilidade dos encontros presenciais que costumavam ser feitos em escolas, centros comunitários e culturais.
Estava lançado o desafio: como fazer o Cidadania Criativa acontecer à distância, em meio a todas dificuldades que a pandemia e seus desdobramentos nos trouxeram? Como usar as ferramentas tecnológicas a nosso favor? Como criar pontes em meio ao distanciamento social? Como discutir sobre os territórios da cidade a partir do confinamento? A resposta foi, como costuma ser por aqui, aprender fazendo. Surgiu então o curso remoto Comunicação Solidária, que formou duas turmas em 2020.
“Reunião marcada para as 14h, e às 13h30 ligo meu computador, pego minha garrafa de água e um café. A reunião começa e entro na sala. Achei tudo muito estranho, pois não conseguia ver ninguém, mas ouvia. A internet estava razoável até que eu pedi a fala e ela resolve cair, fiquei preocupada, mas consegui voltar e concluir minha fala. O café esfriou, a água acabou e eu continuei perdida com esse novo jeito de reunir.”
Texto de Joana D’Arc Oliveira Cunha, na publicação ‘Relatos da Quarentena’.
Arte da publicação Relatos da Quarentena.
Caderno de processos de participante do curso Comunicação Solidária.
Marcos Vinícius Lopes de Araújo, 14 anos, junto a estêncil produzido para o Divercores.
Isaura Mitiko Kawaguiski, costureira que uniu os módulos do estandarte do Divercores em uma única grande peça.
Para trocar uma ideia sobre comunicação e arte com as turmas de jovens, diferentes ferramentas foram mobilizadas – desde grupos de Whatsapp até a entrega de materiais e caderno de atividades, passando pela gravação de videoaulas e pela promoção de encontros por videochamadas. Bruna Lubambo, educadora do projeto, conta que com o tempo todo mundo foi aprendendo as manhas: como e quando enviar mensagens, quais os melhores formatos para as videoaulas, como construir presença à distância.
Quem participou deu a letra: o curso foi oportunidade de trocar experiências e perspectivas e dar vazão à criatividade por meio de produções baseadas nos conteúdos aprendidos. Entre mensagens aqui e ali, as e os jovens participantes foram criando em conjunto e tecendo laços entre si – vindos de diferentes territórios, a maioria se conheceu na própria formação.
“A gente sempre tenta ouvir o outro, pega ideia dali, incrementa mais, fala o que gosta e o que não gosta de um jeito tranquilo e é assim. Um adendo é que isso ajudou todo mundo a amadurecer e a se comunicar melhor com os outros e eu acho isso super legal!”, atesta Sthefane Cristina Rodrigues da Silva, 17 anos, moradora do bairro Vale do Jatobá e participante da segunda edição do Comunicação Solidária.
A reta final dos cursos dá lugar para a melhor parte, segundo Bruna: “aquela que a gente coloca a mão na massa e faz um projeto de autoria dos jovens acontecer de maneira colaborativa, cada um dando uma ideia, cada um fazendo um pouco”. Em cada uma das turmas, a chuva de ideias originou projetos potentes de protagonismo juvenil. O primeiro, um livro ilustrado de poesias chamado Relatos da Quarentena, todo produzido pelo Whatsapp e aplicativos de edição online, com direito à transmissão ao vivo do lançamento no canal do Fórum das Juventudes da RMBH. O segundo, uma intervenção urbana sobre diversidade de gêneros e orientações sexuais, a Divercores, que levou o tema para as ruas por meio de cartazes e estandarte estampados em estêncil, além de produzir conteúdos para as redes sociais.
E quem disse que não era possível promover partilhas em tempos de quarentena? As juventudes estão aí para mostrar que, mesmo longe, é possível resolver problemas e mobilizar pessoas com inventividade e disposição.
O Cidadania Criativa – Ações em Rede Pelo Desenvolvimento Integral da Criança e do Adolescente em Situação de Risco Social, realizado pela Associação Imagem Comunitária (AIC) com recursos oriundos do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Belo Horizonte (FMDCA/BH). Parte dos processos e produções das duas turmas do curso remoto Comunicação Solidária pode ser vista aqui.