Chegou a pandemia e com ela uma maré de questões sociais ganhou relevo e urgênciaComo amenizar os efeitos da crise sanitária nas periferias? Como proteger a vida onde ela é mais ameaçada? Como garantir segurança alimentar para as populações vulneráveis? 

Promoção de cidadania e mobilização social estão em nosso DNA, e essas questões não poderiam deixar de nos chamar à açãoFoi com um olhar atento à realidade que nos cerca que descobrimos: não precisaríamos inventar a roda. A nós, caberia ter uma escuta qualificada das iniciativas da sociedade civil de enfrentamento ao novo coronavírus para, a partir daí, tecer juntas redes de cooperação e visibilidade, conectando pessoas e organizações em prol da transformação social. 

Foi assim que surgiu o Periferia Vivauma força-tarefa frente à pandemia de Covid-19 que rapidamente se desenhou a muitas mãos. Mapeamos e cadastramos 108 iniciativas de mobilização até agora, sobretudo nos territórios periféricos da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ao monitorá-las, reconhecemos uma urgência inadiável: o combate à fome nas quebradas, vilas, favelas e comunidades quilombolas e indígenas. Assim, organizamos uma frente específica de arrecadação e distribuição de cestas básicas, a campanha Comunidade Viva Sem Fome, que já distribuiu mais de 100 toneladas de mantimentos. A ação conta com parcerias com a Associação Mineira de Supermercados (Amis), Cáritas Brasileira e o movimento Dias Melhores. 

Por outro lado, situações de sofrimento psíquico identificadas passaram a ser encaminhadas para a Laço, instituição parceira de atenção psicossocial gratuita, e denúncias de violações de direitos foram direcionadas para o Ministério Público. Também da escuta nasceram ações voltadas para demandas específicas – como a Proteja a Vida, uma campanha de prevenção à violência contra as mulheres, crianças e adolescentes, e a Fraldinhas nas Vilas, que arrecadou recursos para a aquisição de fraldas reutilizáveis, destinadas a famílias de comunidades vulneráveis. 

Uma ampla rede de voluntariado se formou a partir do projeto de extensão Comunicação Solidária Covid-19, da Universidade Federal de Minas Gerais, permitindo que nossa atuação se expandisse ainda mais. Pudemos prestar suporte de comunicação e mobilização para as iniciativas e compartilhar informações úteis com lideranças comunitárias, além de promover dois encontros da Rede Periferia Viva. 

Se, por um lado, articulamos as iniciativas sociais em rede, por outro pudemos fortalecer sua visibilidade nos circuitos midiáticos. Criamos uma plataforma que reúne e disponibiliza, de forma aberta, as informações levantadas a partir de nossas ações. Nas redes sociais, também decolamos: nosso perfil no Instagram hoje conta com 2.300 seguidores. Sem falar, claro, das notícias sobre integrantes do Periferia Viva pautadas pela frente de assessoria de imprensa, que foram veiculadas em 23 canais de comunicação – entre rádio TV, jornais impressos e portais.   

Hoje, o Periferia Viva se consolida como uma referência de articulação social e comunicação para fortalecimento da sociedade civil. Fazemos eco a Milton Santos, reconhecendo a centralidade das periferias para construir um mundo novo – com justiça social, cidadania e bem-viver para sujeitos de todos territórios. 

O Periferia Viva é um projeto da AIC em parceria com o Grupo de Pesquisa Mobiliza, da UFMG, Laço Associação de Apoio Social e Fórum das Juventudes da Grande BH.