Uma enciclopédia que busca traduzir tudo o que o projeto Desembola na Ideia é e convida as pessoas a serem parte dele. Assim o livro1 Desembola na Ideia: arte e psicanálise implicadas na vulnerabilidade juvenil é definido por Marco Chagas, designer da AIC que assina o projeto gráfico da obra, editada pela AIC e lançada no dia 3 de julho através de live transmitida pelo YouTube. 

A ideia da enciclopédia evocada por Marco atravessa, de alguma maneira, a construção do livro feita a muitas mãos. Com organização de Musso Greco e Louize Ganz, ele se divide em 6 cadernos, cada um com um verbete poético-conceitual na capa: ata, canteira, cotidiana, préza, quefazeres, den(fora)tro. O formato da obra faz com que ela seja fácil de segurar, de levar e de ser lida em qualquer lugar – dialogando, também, com os deslocamentos pela cidade, algo que o Desembola se propõe a pensar. “É como se as pessoas estivessem levando uma parte do Desembola com elas na cidade enquanto estão lendo o livro”, explicou Marco no evento. 

Os módulos, independentes mas interconectados, também fazem eco à própria construção coletiva do projeto. Nas palavras de Louise, “seguimos a lógica de um desdobramento, a partir da própria ideia do nome, Desembola – coisas que vão se dobrando, reinventando, remexendo, conectando, superpondo, desembaraçando e inscrevendo”. 

Diferente de uma enciclopédia, porém, o livro se vale de uma multiplicidade de vozes, linguagens e recursos visuais para falar e refletir sobre o trabalho desenvolvido pelo Desembola na Ideia2, projeto da AIC que busca, desde 2014, conjugar a arte, psicanálise e política no atendimento a jovens em situação de vulnerabilidade social, em especial negros, pobres e periféricos. Dos ateliês de culinária à construção de uma canteira de obras, passando pela promoção de campanhas de educomunicação como a #FalaDireito, o trabalho mobiliza uma ampla gama de ferramentas metodológicas – processo narrado inventivamente na publicação por pessoas envolvidas na construção coletiva do Desembola. 

O percurso do livro começa pelo caderno ata, que surge do registro das reuniões semanais do projeto. Na sequência, canteira trata da proposta de escavação de um canteiro de obras no espaço físico do Desembola, uma forma de desenvolver a questão do trabalho com as e os adolescentes. Cotidiana é construído como um relato do cotidiano do projeto pelo olhar e experiência de Diana, funcionária que acolhe e registra as meninas e os meninos, cuida da cozinha e do espaço. 

O caderno préza gira em torno das assinaturas das e dos adolescentes, marcas através das quais esses sujeitos têm nome próprio e encontram um lugar no mundo. No quefazeres, artistas trazem registros dos ateliês desenvolvidos no Desembola na Ideia junto à juventude: ateliês de música, de criação artística, de arquitetura e jardinagem, de retratos, de estilo, de dança, de artes e de culinária. O caderno den(fora)tro, por fim, se debruça sobre a produção de subjetividade adolescente no encontro com a clínica psicanalítica lacaniana, as vivências práticas no campo da arte e a dimensão política das intervenções na cidade sobre a imagem e o lugar social da juventude negra. 

A aposta do Desembola na palavra, agora materializada no livro, parece encontrar ressonância entre o público atendido pelo projeto, conforme coloca a psicanalista do projeto, Cris Ribeiro: “A chegada de um adolescente ou de uma adolescente dizendo que teve que ir lá para desembolar eu acho que é a prova viva de que [essa] é uma aposta deles também, uma aposta na palavra. Nesse caminho traçado pra morte, (…) a via da palavra pode ser mesmo muito importante para os meninos”. Assim, num processo constante de criação e recriação teórica e metodológica, o Desembola na Ideia segue firme no propósito de criar condições para que as adolescências negras e periféricas vislumbrem um futuro.

A live de lançamento está disponível na íntegra em nosso canal do YouTube e a versão digital das seis partes do livro pode ser acessada em nosso site: 

Publicação realizada com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte (Projeto 0096/2017), através de patrocínio do Mater Dei.  

Projeto realizado com recursos destinados pela 20ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, no bojo de ação civil pública proposta pelo MPT, e apoio da 23ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Belo Horizonte – Área Infracional.