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Quem viaja pelo Brasil sabe que, grandes ou pequenas, são muitas as cidades que têm estações de trem para chamar de suas, muitas delas hoje desativadas. É para registrar e difundir a memória ferroviária de algumas dessas localidades que o Estação de Memórias, iniciativa da VLI desenvolvida pela AIC, percorre o país. A proposta é realizar atividades de levantamento e registro de histórias das cidades e ferrovias e, ainda, criar espaços de exposição de tais registros dentro das estações.
Ao longo de sua viagem pelos estados de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, o projeto vem colhendo aprendizados e consolidando metodologias para construir a memória ferroviária pelo país. O ponto de partida é a construção coletiva da memória social, inspirado na Tecnologia Social da Memória, do Museu da Pessoa. Esse princípio diz que a história é feita pelas pessoas e nunca é única, e que toda história tem seu valor.
Nesse sentido, o Estação de Memórias busca escutar e costurar os relatos de quem teve suas trajetórias marcadas pelas ferrovias que cortam (ou cortaram) suas cidades. Com isso, vamos formando uma teia de memórias em torno das estações de trem.
Na sequência, contamos um pouco mais sobre o processo de construção desses espaços. Vem com a gente!
Construir histórias: pesquisando a memória ferroviária
Para começar os trabalhos, pedimos licença para chegar nos territórios. Nesta primeira etapa, a equipe realiza visita técnica ao espaço onde será construída a expografia e levanta informações preliminares sobre a estação. É também quando fazemos as primeiras reuniões de alinhamento com os parceiros locais.
A pesquisa da memória ferroviária passa por explorar os arquivos oficiais de cada localidade e o patrimônio ferroviário já levantado, mas também envolve outras estratégias. Por um lado, fotos, documentos, relatos, indicações e até mesmo objetos chegam por meio de chamadas abertas à população. Por outro, a consulta a especialistas e pesquisas já existentes aponta para rotas possíveis para a investigação.
Isso sem contar, é claro, com o diálogo direto com quem é do território. Afinal, ninguém melhor do que a população local para contar as histórias dali. Neste ponto, são inúmeras as ferramentas que mobilizamos. Por meio de um café com prosa, constituímos um grupo de referência local, junto a quem promovemos rodas de histórias, entrevistas e oficina de memória fotográfica. Assim, vão se somando histórias carregadas de afeto que se cruzam com as ferrovias.
Organizar a história: criando expografias em torno das ferrovias
Com uma profusão de depoimentos, objetos e imagens em mãos, é chegada a hora de imergir em todo esse material para organizá-lo em narrativas compartilháveis com a comunidade. Nesta etapa, levantamos referências para construir expografias que dialoguem com cada localidade. Também discutimos com a equipe, os parceiros e o grupo de referência local quais são os eixos que aquele projeto expográfico pode ter.
Com base no desenho construído na imersão, partimos para a criação da identidade visual da Estação de Memórias e para a produção dos conteúdos gráficos, audiovisuais e em texto. Não é raro que, nesse momento, seja necessário voltar às fontes para apurar informações. Após as idas e vindas da edição – indispensáveis para que tudo saia da melhor maneira possível –, investigamos como tornar a exposição realidade. Uma intensa busca por fornecedores, mobiliários, equipamentos e materiais tem lugar aqui.
Socializar histórias: construindo espaços de memória ferroviária
O ciclo só se completa quando o conteúdo produzido é socializado. Toda história pressupõe troca: as narrativas só existem à medida que, além de narradas, sejam também escutadas e interpretadas por alguém. É nessa teia que as memórias em torno das ferrovias se conectam, abrindo novas possibilidades de interação social.
Assim, passamos à montagem dos espaços expográficos, a partir do que foi planejado e orçado na etapa anterior. Não sem antes, é claro, assegurar as condições de limpeza, segurança e uso do espaço. Após acertar os detalhes, entregamos a Estação de Memórias à comunidade no melhor estilo. Os eventos de lançamento, promovidos em parceria com as prefeituras locais, são um convite à população – e, em especial, a quem participou do processo – para que conheça e se aproprie dos resultados. Atrações culturais se somam a esse momento, mostrando que a cultura e a memória são vivas e estão em constante construção.
“O projeto Estação de Memória, parceria da VLI mais Agência de Iniciativas Cidadãs e Prefeitura de Divinópolis, representou um marco na trajetória da memória ferroviária para o município. Isso, porque acima de tudo o projeto se mostrou como uma verdadeira ‘escola’ de desenvolvimento de uma proposta de preservação da memória voltada para a história da ferrovia divinopolitana. Durante meses, praticamente um ano, o projeto demonstrou sua seriedade na realização de suas etapas destacando a pesquisa como meio de execução do trabalho. Nesse sentido, o projeto não só construiu uma exposição excelente, homenagem mais que necessária à memória ferroviária, como gerou novos materiais, novas fontes e caminhos para a história ferroviária na cidade de Divinópolis.”
Faber Barbosa, consultor histórico do projeto Estação de Memórias de Divinópolis
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