Em que medida o fenômeno das fake news tem influenciado o universo juvenil? Essa foi a pergunta que buscamos responder em disciplina ofertada em parceria com a Faje – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, neste primeiro semestre de 2023. A iniciativa atualiza nosso histórico vínculo com as instituições de ensino superior – e em especial com o pilar da extensão acadêmica, de onde nascemos, responsável por promover o intercâmbio entre os saberes científicos e a sociedade.  

Intitulada Fake News: reflexões filosóficas e práticas comunitárias de enfrentamento, a atividade extensionista mesclou um pouco do que já fazemos de melhor. Trabalhando em rede, lançamos mão das nossas metodologias de educomunicação e educação popular para promover escuta e diálogo. Os alunos escolheram grupos de jovens residentes nas periferias de BH e região metropolitana para realizar, entre eles, atividades sobre o enfrentamento das notícias falsas. Ao final, os encontros deveriam resultar em produtos de comunicação construídos colaborativamente. 

Discutindo desinformação com as juventudes

As fake news são um fenômeno contemporâneo caracterizado pela disseminação de pretensas notícias, que simulam o formato jornalístico, mas espalham informações deliberadamente falsas por meio das redes sociais. Para enfrentar essa questão, é preciso discutir o fenômeno junto a diferentes públicos.

“Nesta iniciativa em parceria com a Faje, atuamos com jovens diversos de BH e região metropolitana para fomentar a leitura crítica de mídia como aliada fundamental no combate às fake news. O resultado foi potente e diverso. Sensibilizados, esses jovens desenvolveram intervenções para multiplicar essas informações em seus contextos, nos formatos e linguagens que consideravam mais aderentes a suas audiências”, conta Bárbara Pansardi, gestora da AIC à frente da ação.

Dinâmicas quebra-gelo, contação de histórias e avaliação “fato ou fake” formaram parte do conjunto de ferramentas mobilizadas para os encontros. As atividades ocorreram nos bairros Alto Vera Cruz, Cachoeirinha, Jardim América e Taquaril, em BH, e também em Santa Luzia, na região metropolitana. Os processos estimularam a reflexão sobre a responsabilidade na disseminação de fake news, além de apontar caminhos para o desenvolvimento de um olhar crítico sobre as informações. 

Segundo Andrea Marelli, um dos alunos da disciplina, o envolvimento e o desejo de aprofundamento dos jovens em relação ao assunto surpreenderam. “Nossa atividade teve como ponto de partida a vivência que eles traziam sobre o fenômeno. As contribuições deles foram muito ricas, mostrando que é uma temática que afeta de vários modos nossas vidas e nosso dia a dia”, conta. 

A partir das conversas e desafios criativos propostos nas oficinas, era hora de estruturar os produtos de comunicação, num trabalho de edição e editoração daquilo que foi colhido nos encontros. Cada um dos grupos escolheu uma linguagem, dando origem a vídeos para redes sociais, cartazes com memes e história contada em livreto e podcast. 

Para Adilson Felício Feiler, professor da Faje responsável pela disciplina, a experiência do trabalho de extensão permitiu que a turma avançasse na compreensão do fenômeno das fake news. “Os alunos puderam constatar que o problema das fake news se combate com esclarecimento, fruto de uma formação contínua e aprimorada”, avalia. 

Experiências no combate às fake news nas periferias 

Desde 2021, o enfrentamento das fake news junto a públicos periféricos vem sendo pauta na AIC. Apesar de novo, o desafio vem na esteira de uma longa e sólida trajetória da organização na defesa do direito à comunicação, com foco em sujeitos e grupos a quem esse direito é negado. Segundo o professor da USP Almir Almas, as inovações tecnológicas transformaram tal discussão. Se antes ela estava muito voltada às ferramentas de produção e difusão midiática, agora se volta para os processos de construção de conhecimento: 

 

“Imersos num ambiente caótico de hiperinformação, que circula em mídias digitais imbricadas e online, estamos num contexto em que democratizar a comunicação deixou de ser sinônimo de assegurar as condições de produção. Democratizar, em 2021, é criar espaços e processos nos quais os indivíduos e grupos sejam desafiados a construir sentidos, em seu universo de interesses e relações, para o grande volume de informações e de aparatos tecnológicos com os quais se deparam cotidianamente.” 

Produção midiática comunitária: experiências de acesso, conversa e colaboração. Em Imagem Comunitária, p.5. 

A primeira experiência da AIC no combate à desinformação se deu a partir da viabilização de dois microprojetos realizados por grupos parceiros. O movimento Eu Amo Minha Quebrada e o Coletivo Balaio abordaram o fenômeno nas periferias, em diálogo com as necessidades dos territórios. As ações se deram, sobretudo, nas redes sociais. 

Ainda em 2021, a ação Comunidade Viva Sem Fome também abordou o enfrentamento das notícias falsas em uma ação educativa. A produção da cartilha Comunidade Viva Sem Fake se deu em parceria com os grupos Clã das Lobas e Coletivo Balaio. O material, distribuído junto a cestas básicas, traz sinais de alerta para identificar notícias falsas, fontes para checagem e jogo quiz. Para completar, os grupos participantes também realizaram ações locais sobre desinformação. 

Acesse a cartilha Comunidade Viva Sem Fake!