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Uma das mais complexas e graves questões sociais do Brasil, a violência contra a juventude negra, pobre e periférica faz dessa população a mais encarcerada e também a que mais morre no país. Em Belo Horizonte não é diferente: segundo o Seminário Municipal de Prevenção ao Crime e à Violência, mais de 60% dos homicídios em BH foram contra jovens em 2017. Números também dão conta de que 70% dos jovens assassinados no município são negros, de acordo com dados de 2010 colhidos pela Comissão Especial de Estudo do Genocídio da Juventude Negra e Pobre da Câmara Municipal.
Frente a essa realidade alarmante, a sensibilização sobre o valor das vidas de jovens negros é urgente, assim como a mobilização pela garantia de seus direitos. Atendendo ao chamado, o Desembola na Ideia promoveu, entre 2021 e 2022, um ciclo de rodas de conversa com coletivos e instituições do Sistema de Garantia de Direitos. O objetivo foi apresentar duas campanhas pela promoção da cidadania das juventudes, ambas realizadas pela AIC, a segunda em parceria com a Comissão de Prevenção à Letalidade de Adolescentes e Jovens de BH: a #faladireito e a #fazdiferença.
Idealizada em 2018, a #faladireito é uma campanha de comunicação de caráter continuado, desenvolvida colaborativamente a partir de oficinas de educomunicação do Desembola na Ideia. A iniciativa, construída por adolescentes ligados ao Sistema Socioeducativo de BH junto a uma equipe de arte-educadores e profissionais de comunicação, nasceu da necessidade de falar dos direitos desses sujeitos em uma linguagem criada por e acessível a eles.
A primeira edição, chamada #DesarmeSeuOlhar, busca demonstrar como os preconceitos geram exclusão social, violações de direitos e morte das juventudes periféricas, e como essas imagens negativas limitam o exercício dos direitos e da cidadania dos adolescentes.
A campanha #fazdiferença, por sua vez, parte de uma pergunta: o que faz diferença para manter nossos jovens vivos? Seu objetivo é identificar práticas e saberes que auxiliam no combate ao genocídio da juventude negra. Para isso, foi realizada uma escuta ampla e qualificada de profissionais que atuam junto a adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social e suas famílias.
Comunicação e mobilização social pelos direitos das juventudes
Imagem da campanha #faladireito.
Imagem da campanha #faladireito.
Imagem da campanha #faladireito.
Imagem da campanha #faladireito.
Imagem da campanha #faladireito.
Imagem da campanha #faladireito.
Com as campanhas prontas e kits impressos a serem enviados pelos Correios, foi feito, em parceria com o Fórum das Juventudes e a rede Periferia Viva, um mapeamento de diversas iniciativas educativas, culturais e sociais da Grande BH ligadas à temática das juventudes. Era hora de apresentar as ações aos grupos – e de ouvi-los.
As conversas, realizadas virtualmente, suscitaram diálogos em torno de temas como racismo, participação juvenil, falta de políticas públicas em territórios periféricos, fatores de proteção das vidas jovens e banalização da violência. Além disso, os encontros abriram portas para que os materiais de multiplicação da #faladireito sejam usados junto aos públicos dos grupos – com destaque para as atividades propostas no Guia #DesarmeSeuOlhar.
Esse foi o caso do coletivo Roleta Crew, que identificou nas ferramentas da campanha não só a oportunidade de colocar o enfrentamento à violência em pauta, mas também de fomentar a participação de adolescentes em suas atividades. O grupo atua em Betim, promovendo batalhas de rap, shows e outros eventos culturais, e percebeu que a presença dessas pessoas foi impactada pela pandemia.
A possibilidade de conhecer as campanhas também foi celebrada pelo coletivo de jovens Brain Sai, da Vila Jardim Leblon, na Regional Venda Nova de BH, que busca valorizar a cultura local e é composto majoritariamente por homens cisgênero negros, atuantes no audiovisual e na música. Ricardo Luiz e Maria Emanuela, integrantes da iniciativa, relataram que o território é negligenciado pelas políticas públicas, especialmente de cultura e lazer, e que o contato com iniciativas como a #faladireito e a #fazdiferença é uma forma de aproximá-los de outras construções da cidade.
Sthefanny Jéssica, participante do coletivo Flores do Beco, formado por mulheres negras, mães e trabalhadoras da cultura da região metropolitana de BH, avaliou como positiva a linguagem usada nas campanhas. Para ela, ambas “são feitas com uma certa leveza, mesmo sendo um tema tão pesado. Muitas campanhas despertam um ódio desesperador, é como reviver um pouco [a violência]. Essas não, elas causam uma revolta que te faz querer fazer algo”.
O bate-papo sobre o que #fazdiferença também chegou a um importante público para a garantia dos direitos juvenis em Belo Horizonte: o Conselho Tutelar. Em encontros conduzidos por psicanalistas do Desembola na Ideia, conselheiras e conselheiros foram instigados a pensar como sua atuação individual e coletiva pode preservar a vida dos jovens negros, indo na contramão das estatísticas.
Participa de uma instituição educativa ou social e tem interesse em receber atividades e materiais de campanhas pela promoção dos direitos juvenis?
Escreva para beatriz@aic.org.br contando quem é seu grupo!
A versão digital dos materiais também pode ser acessada e baixada em nosso site, nas páginas da #fazdiferença e do Desembola na Ideia.