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Uma cartilha chega a um grupo, coletivo ou entidade periférica. O tema: combate à violência contra a mulher. O diferencial? Aquele material educativo foi elaborado a partir de conversas com lideranças daquela e de outras comunidades, que compartilharam suas experiências e percepções em torno do tema junto a uma equipe dedicada a escutá-las.
Ainda que à primeira vista a cartilha se pareça com outras tantas, produzidas de maneira não colaborativa, esse processo de feitura é significativo para a construção de diálogos – tanto ao longo da produção quanto no momento de circulação do material. É por isso que na AIC investimos nesse tipo de produção, a partir da perspectiva da educomunicação e tendo como farol princípios metodológicos como interação e experimentação.
Vem saber mais sobre o assunto!
Por que apostar na construção colaborativa de materiais educativos?
Os processos colaborativos para produzir materiais educativos têm efeitos importantes sobre pelo menos dois aspectos: a mobilização dos públicos que participam desses processos e os produtos que resultam deles.
Do ponto de vista da participação, tais processos são fundamentais para construir sentido e pertencimento, potencializando o ensino e a aprendizagem. O ponto de partida é o universo de saberes e vivências dos próprios participantes, de maneira que eles e elas se reconhecem e se envolvem com mais entusiasmo e desejo nas proposições.
Quando falamos em públicos minorizados – comunidades tradicionais, mulheres, jovens, pessoas negras, da comunidade LGBTQIA+ -, a construção colaborativa também possibilita legitimar e valorizar suas identidades e modos de fazer, frequentemente invisibilizados ou contestados. A participação propicia, ainda, que os materiais produzidos ganhem vida e que o compartilhamento se capilarize ainda mais.
Quanto aos materiais, a produção coletiva carrega, maior pluralidade em seus conteúdos e formatos. Quer dizer, com o processo colaborativo, os produtos tendem a ser mais ricos e diversos, além de alinhados com as vivências dos públicos em questão e dos contextos educacionais. Afinal, os sujeitos detêm saberes incontestáveis sobre si mesmos, sobre o que querem e julgam relevante. Trazem, também, aportes importantes sobre suas realidades e sobre o mundo que os cerca.
Como envolver grupos e pessoas na elaboração de materiais educativos?
Há diversas maneiras de envolver os públicos na concepção e desenvolvimento de produtos educativos ou informativos. Como tudo que se refere à mobilização social, não existe receita pronta. O caminho escolhido vai depender de cada contexto e de fatores como tempo, envolvimento e idade dos participantes. Também entram na equação as habilidades e conhecimentos técnicos disponíveis. Aqui, mobilizamos ferramentas diversas: oficinas, rodas de conversa, votações…
No caso das cartilhas do Periferia Viva Mulher e do Comunidade Viva Sem Fome, por exemplo, o envolvimento começa na escolha dos temas. Os grupos comunitários identificam em seus contextos assuntos que precisam ser tratados e conversam com a equipe sobre como isso deve ser feito. A equipe levanta desafios de linguagem, informações necessárias, tom de voz e opções visuais junto a esses coletivos, o que se reflete nos produtos finais. Com isso, incidimos sobre gargalos comunicacionais que não atingiríamos de outras formas.
Outra maneira de participação dos públicos é por meio de suas produções. Trata-se de trazer para dentro dos materiais as vozes, estéticas e expressões de quem fez parte daquela construção. Os educadores podem colher conteúdos em oficinas de arte e comunicação, como aconteceu na Rede de Cultura e Protagonismo Juvenil. Os guias culturais que resultaram dos processos formativos estampam fotografias, ilustrações e textos feitos pelas juventudes participantes.
No caso da campanha #faladireito, os encontros com as adolescências em situação de vulnerabilidade dão origem a imagens que compõem o projeto gráfico. Mas não só: a partir de perguntas e provocações, surgem direções para a produção de conteúdo e frases usadas como slogans. Ou seja, partimos da escuta para falar de temas como direito à vida e direito à cidade. Isso vai auxiliar, também, na aproximação entre educadores e jovens.
Seja como for, o importante é que, por um lado, a produção funcione como elemento mobilizador dos públicos e, por outro, eles se vejam refletidos e representados por esse produto. Todo mundo sai ganhando: as pessoas envolvidas, a equipe que conduz o processo e quem recebe o material educativo.
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